terça-feira, 29 de março de 2011




NEM QUE SEJA UM POUCO



A rotina que antes vivíamos agora se foi. 
Separados não nos sentimos nada, ou melhor, somos nada. 
Procuramos em rostos alheios velhos conhecidos. 
Desejamos a todo momento um igual, 
Por mais que saibamos que o mesmo não existe.
     
A nova rotina se iniciou.
A busca incessante não para. 
A falta cada vez passa a incomodar mais, 
Mas, a não falta de alguns parece mais preocupante ainda. 
Novos conhecidos podem, as vezes, agradar, 
Mas os velhos não merecem ser esquecidos.      
     
Um pouco de esforço, 
Um pouco de calma, 
Um pouco de tudo...
Costuma fazer bem.

domingo, 13 de março de 2011




Nova Era

A vida não espera. O relógio não para para podermos pensar. Uma ação atrás da outra seguindo uma narrativa de quase cem anos. Morremos, e quando alguém resolve nos ler, percebemos no semblante da mesma a ideia de: "não vou jogar minha vida fora como ele". Passamos nossos dias praticando feitos que nos dizem ser importantes, mas não sabemos quem inventou tudo isso, quem ditou essa regra. Passamos nossos dias seguindo ordens. Passamos nossa vida seguindo a rotina. Passamos com medo... medo de tentar, medo de errar, medo de querer ser feliz. Afinal, é mais facil aceitar a tristeza e ser coitado do que quebrar a rotina pela felicidade. A nação apodrece a cada dia. A depressão toma conta de todos nós. O escapismo é nosso acompanhante eterno. Mas, e a mudança, é tão utopica assim?




Agradecimento especial ao amigo Lucas Khenayfis que incentivou a volta diariamente!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010


ATÉ QUANDO ?


      Uma cidade maravilhosa paralisada diante da incompetência dos seus representantes ao longo dos anos. O que podemos fazer numa hora dessas além de assistir bestificados o massacre de nós mesmos ? A maioria só está chocada agora (que aparece na TV e na imprensa internacional) com as mortes e os ataques, mas a verdade é que já faz um bom tempo que vidas de inocentes são tiradas debaixo de nossos narizes e nós fingimos não ver, fingimos que está tudo bem e continuamos nossa rotina. A guerra civil de que tanto falam, já foi declarada há anos, uma hora a bomba ia estourar.
      E é nessa hora que eles resolvem montar mega operações, colocam tanques e toda a tropa de soldados possível nas ruas pra mostrar serviço, quando essa atenção toda deveria ser usada na hora de prevenir que a violência aconteça, não na hora de limpar todo o sangue derramado.
     Parece que dessa vez a sociedade não tem mais pra onde fugir: ou exige pra ontem que as autoridades controlem essa barbárie (que se chegou a este ponto, foi por negligência das mesmas) ou aceita de bico calado a condição de marginal: a perda total da liberdade e da segurança.
    
           Post Scriptum: Quase 40 veículos incendiados, e mais de 20 mortos em três dias. Mas fica tranquilo, até a Copa de 2014 já vai estar tudo controlado, afinal, é importante manter a segurança para os gringos né?!


quinta-feira, 11 de novembro de 2010





Cardiomegalia

Me rasgo entre prantos. O grito que antes me abafava sente uma escapatória. Ele pode tomar vida mas prefere, me ver sofrendo, sofrer.
A luta desumana entre meu eu e meu estar me corrói. A falsidade que transmito no meu dia me machuca, e cada vez mais despedaçada fico.
Atuando finjo ser outra, me escondo em meio a tantos integrantes.
Um dia não terá mais como, não terá mais onde, e, apesar de doloroso, sei que essa será a única saída para o meu não estar-bem.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010




    Foi quando resolvi sentar-me à beira da estrada. Já estava cansado de tanto andar e o sol já fazia o suor escorrer pelo rosto. Olhei para esquerda, direita, e nenhum sinal de sombra, qualquer fosse a direção. Deitei-me e pus a mochila sobre o rosto para criar a desejada sombra e tentar amenizar a temperatura, o que de nada adiantou. Levantei quando julguei ter recuperado as forças, mas pouco depois desanimei e, novamente, sentei. Fiquei encolhido, abraçado às pernas pensando em tudo aquilo que vi e se minha escolha fazia algum sentido.
    Ouvi uma buzina e levantei a cabeça. Havia um homem ao lado de um carro olhando para mim, que nem havia ouvido o móvel passar na minha frente. Levantei na hora e pensei “Ufa, que bom!” “Vai a algum lugar?” disse o estranho. “Até onde puder me levar.” e entrei no carro. Era um homem já velho de boa aparência que passava pela estrada. Faria uma entrega de sanduíches a uma cidade que disse ser próxima. As caixas da encomenda estavam no banco traseiro. Ofereceu-me e na minha fome acumulada peguei três para comer ali e outros três enfiei dentro da mochila, sem pensar no momento se faria diferença para o freguês dele.
    Contei a ele um pouco de uma vida que acabara de inventar e pareceu acreditar. Quando me perguntou a razão de estar ali no meio do nada, calei-me. Dei a última mordida no terceiro sanduíche, mastiguei, engoli, mais calado. Foi o tempo de criar um motivo que encaixasse em minha nova vida. Senti-me engraçado. Naquele momento eu poderia ser quem eu bem quisesse e não haveria julgamentos ou questionamentos sobre quem sou, ou era, ou fui. Mais engraçado foi que a vida que lhe contei nunca havia passado em minha mente, mas acabou servindo para a situação.
    Depois de mais conversa e de ouvir mais histórias sobre vida dele, veio um silêncio. Aquele silêncio que te faz pensar e pelo qual eu não queria passar, quem sabe algum dia eu volte a me sentir confortável com ele. Achei que a viagem demorava e perguntei-lhe se seria algum incômodo cochilar ali, ele disse para me sentir à vontade, parecia cansado, o que de fato estava.
     Virei-me para a janela, fechei os olhos e logo o sono possuiu minha mente. Que inferno! Por que resolvi dormir justo no carro de um cara que me acolheu tão bem? Não queria precisar passar pelo que passei. Durante meu sono aquelas não saíam da minha cabeça. Eu via aquelas cenas todas por cima. Eu voava. Conseguia voar! E por mais rasantes que eram meus mergulhos, não conseguia alcançar o solo para impedir-me de fazer aquilo. Ouvia gritos ensurdecedores ecoando, mas todos estavam com as bocas costuradas. Por que eu? Por que os escolhi? Se é possível tirar conclusões sonhando, concluí conhecer a essência de um arrependimento.
    Acordei desesperado, urrando para o homem parar o carro. Ele me dizia para ter calma, mas eu estava descontrolado. Num ímpeto explosivo abri a porta e me joguei. Rolei alguns metros por uma estrada de terra. Não tinha idéia de onde estava, mas estava dentro de algum tipo de floresta. Nunca mais vi o homem. Nunca mais vi ninguém.Ainda na minha onda de desespero, corri pela mata adentro sem noção alguma de direção.
    Corri até não agüentar mais, até me deparar com um penhasco. Olhei aquela imensidão e gritei com o resto de fôlego que me restava, senti as duas últimas batidas do meu coração quebrado, esmigalhado e realizei o sonho que tive. Eu voava. Conseguia voar...


domingo, 31 de outubro de 2010




São Francisco e Santa Rosa.

           10 km de uma estreita estradinha de terra e chegamos lá. A porteira azul meio remendada nunca foi trancada, também, pra que? Não havia sinal de vida humana num raio de 10 km e aquele paraíso era só nosso.
           Subindo uma ladeirinha já dava pra avistar o lago e o puxadinho feito por Ele para que se pudesse observar o céu nas noites estreladas do meio da água. A capelinha ficava logo ali, com direito a altar, imagens e até um sino. Sempre que a Menina chegava perto desse sino se perguntava quantas pessoas antes dela haviam puxado a corda e ouvido as badaladas.
           Depois do gramado via-se a casa grande. “Grande” é apenas força de expressão, a casa era simples, antiga. Tinha as paredes brancas e as portas azuis, dando um ar de “céu” pro lugar. Em todas as portas viam-se maçanetas brancas de porcelana pintadas à mão, flores rosadas e vermelhas com um pouco de verde. O chão de madeira resmungava quando passávamos por ele, tinha até umas falhas entre as tábuas, mas que ninguém ligava, o chão pertencia à casa e ninguém poderia mexer nele.
           Passando pela sala e por mais um portal azulado chegava-se a cozinha. O coração da casa. O majestoso fogão à lenha aquecia tudo no cômodo: as conversas, gargalhadas e a água pro café. O calor da lenha nos unia. Na janela, um pequeno rádio cantor de música sertaneja deixou a música gravada nas paredes e nas lembranças que agora, Ela tem da casa de quando era menina. Só agora Ela se deu conta do quanto foi feliz naquele chão de terra batida, de como era bom refugiar-se do barulho e da fumaça pelo menos aos finais de semana. Fugir pela estrada à cavalo, sem ter hora pra voltar, caminhar pelas trilhas na mata, alimentar as galinhas, os coelhos, sentir o cheiro do eucalipto, correr contra o vento, se isolar em qualquer canto, tocar o sino...Havia tanta vida naquele lugar, que o mundo lá parecia ser outro. E era.
           Agora o arrependimento bate, poderia ter aproveitado mais, poderia ter evitado o fim de uma época que não volta mais, de uma época em que eram mais do que apenas os quatro. Quando as preocupações viravam grãos de areia e eram jogadas ao vento. Hoje, Ela chorou pela primeira vez a perda daquele pedaço de céu, a saudade que sente do seu paraíso particular aperta cada vez que a Menina se afasta dela com o passar dos anos. A Menina ainda deve morar lá, já que ela não se lembra de nenhum outro lugar no universo onde tenha sido mais feliz.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010




NESSES DIAS QUE O SINGULAR ME INVADIU....

Acontece com todo mundo. confesso que comigo a freqüência é maior do que parece. Desengonçada, esquisita, alheia, esquivada.
E no meu efésimo minuto, vem a necessidade de verborriar. Tentei subir pra escutar o que a Sra tinha de inusitado a me dizer. Outra confissão: estamos cada dia mais parecidas, dando lições pra mulher que está entre nossas gerações, discordando da inutilidade de nervos inusitados. Me traz felicidade perceber isso, é uma mulher que sempre foi fora dos parâmetros, e dentro da minha perspectiva de moral. Mas não, ela não me disse nada que permitisse a caneta dançar no papel. Esperei a madrugada, costuma ajudar.

O caminhão do lixo passou atrasado hoje.

Os motivos começaram a me surgir... o motorista é papai!, ou um desfile com novos tons de laranja para envenená-los, lógico que foi o trânsito. E dentre as alternativas, resolvi aceitar que foi atropelamento. Mas e o paciente? Porque o agente estava ali, bem embaixo da minha janela. o paciente estava aonde? 20 anos, e daqui uns tempos ia se tornar um Chico. Quantos Chicos se foram atravessando ruas e avenidas? Intrigante e se desse pra saber quem, o governo federal estaria encarregado de distribuir o coquetel da imortalidade pros rapazes e moças.

No efésimo primeiro minuto sempre dá vontade de chorar. Lembrei do motorista que podia ser papai, cheguei a ouvir os choros do bebê. E logo depois ouvi o choro das ondas, dentro do meu quarto, vindo molhar meus pés. Sempre foram indiferentes (por parte delas, das ondas) mas estavam me invadindo, invadindo a minha privacidade. E eu deixei como...
Uma capatás! Só pedi pra que se segurassem e não desrespeitassem minhas fotos e textos espalhados por aqui.



Agora, a brisa foi. Esqueceu de carregar meu desajuste com ela. Talvez se eu tivesse pedido... Mas aposto que você não acredita se eu disser que não faz parte da minha vontade ver o mar agarrado com o desajuste. Sempre fui ciumenta. Moderada. Só que nesse caso...